Bilingüismo e suas Relações no desenvolvimentoda identidade da criança surda.
O Bilingüismo (num sentido escrito) é uma proposta de ensino usada por escolas que se propõem a tornar acessível à criança duas línguas no contexto escolar. Os estudos têm apontado para essa proposta como sendo mais adequada para o ensino de crianças surdas, tendo em vista que considera a língua de sinais como língua natural e parte desse pressuposto para o ensino da língua escrita. No entanto, o reconhecimento dos surdos enquanto pessoas surdas e da sua comunidade lingüística estão inseridos dentro de um conceito mais geral de bilingüismo. Esse conceito mais geral de bilingüismo é determinado pela situação sócio-cultural da comunidade surda como parte do processo educacional. O fato de serem pressupostas duas línguas no processo educacional da pessoa surda, a Língua Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa, está inserido num processo educacional. Bilingüismo para surdos atravessa a fronteira lingüística e inclui o desenvolvimento da pessoa surda dentro da escola e fora dela dentro de uma perspectiva sócio-antropológica. A educação de surdos deve ser pensada em termos educacionais e não mais em termos de línguas. Dentro desse contexto, o bilingüismo está sendo apresentando como um caminho de reflexão e análise da educação de surdos. O bilingüismo, tal como entendemos, é mais do que o uso de duas línguas. É uma filosofia educacional que implica em profundas mudanças em todo o sistema educacional para surdos. A educação bilíngüe consiste, em primeiro lugar, na aquisição da língua de sinais, sua língua materna. Surdo, em contato com outros surdos, passa por um processo de identificação com sua comunidade de surdos. Essa comunidade está inserida na grande comunidade de ouvintes que, por sua vez, caracteriza-se por fazer uso de linguagem oral e escrita. O bilingüismo propõe que o surdo comunique-se fluentemente na sua língua materna (língua de sinais) e na língua oficial de seu país. Será ela oral? Será escrita? Essas são duas questões polêmicas que dividem os educadores de surdos. No entanto, todos concordam que o desenvolvimento cognitivo, afetivo, socio-cultural e acadêmico das crianças surdas não dependem necessariamente de audição, mas sim do desenvolvimento espontâneo da sua língua. A língua de sinais propicia o desenvolvimento lingüístico e cognitivo da criança surda, facilita o processo de aprendizagem, serve de apoio para a leitura e compreensão. Em síntese, a integração plena da pessoa surda passa, necessariamente, pela garantia de convívio em um espaço, onde não haja repressão de sua condição de surdo, onde possa expressar-se da maneira que mais lhe satisfaça, mantendo situações prazerosas de comunicação e de aprendizagem. Para Vygotsky que se opunha veementemente à avaliação das crianças portadoras de incapacidades com base em seus defeitos ou deficiências, seus “menos”; ele as avaliava, em vez disso, com base no que elas tinham de intacto, seus “mais”. Ele não as via como deficientes e sim como diferentes. “Uma criança com uma incapacidade representa um tipo qualitativamente diferente, único de desenvolvimento”. E era essa diferença qualitativa, essa singularidade, na opinião de Vygotsky, que qualquer esforço educacional ou reabilitador devia privilegiar: “Se uma criança cega ou surda atinge o mesmo nível de desenvolvimento de uma criança normal”, escreve ele, “então a criança com uma deficiência atinge-o de outro modo, por outro caminho, por outro meio; para o pedagogo, é particularmente importante conhecer a singularidade do caminho pelo qual deve conduzir a criança. Essa singularidade transforma o menos da deficiência no meio da compensação”. O desenvolvimento de funções psicológicas superiores, para Vygotsky, não é algo que ocorre “naturalmente”, de um modo automático – requer mediação, cultura, um instrumento cultural. E o mais importante desses instrumentos culturais é a língua. Mas os instrumentos culturais e as línguas, explica Vygotsky, foram desenvolvidos para pessoa “normal”, a pessoa que tem intactos todos os órgãos dos sentidos, todas as suas funções biológicas. O que, então, será melhor para o deficiente, para a pessoa diferente? A chave para seu desenvolvimento será a compensação – o uso de um instrumento cultural alternativo. Assim, Vygotsky chega à educação especial dos surdos: o instrumento cultural alternativo, para eles, é a língua de sinais – uma língua que foi criada para e por eles. A língua de sinais está voltada para as funções, as funções visuais, que ainda se encontram intactas; constitui o modo mais direto de atingir as crianças surdas, o meio mais simples de lhes permitir o desenvolvimento pleno, e o único que respeita sua diferença, sua singularidade. Por isso, educar a criança na sua própria língua favorece seu desenvolvimento emocional (construção de sua identidade, segurança, auto-estima, etc), cognitivo e social.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Bilingüismo e suas Relações no desenvolvimentoda identidade da criança surda.
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